Num contexto de aula, foi realizado um exercício que envolveu a temática do desenho e da performance, onde cada participante contribuiu para uma forma de pensar o desenho, o papel e uma ação. O exercício que eu me propus a realizar foi com uma folha de papel do tamanho do meu corpo, a qual cortei posteriormente em três partes, permitindo que a minha cabeça e as mãos "entrassem" pelo desenho e fizessem parte dele. A presença do corpo e dos movimentos com as mãos foi fundamental para a experiência.
Numa primeira fase, coloquei-me de costas para os meus colegas e professor, e comecei por fazer um desenho no papel "preso" em mim, como se fosse uma fina barreira entre o meu corpo e o carvão, sugerindo um desenho no próprio corpo. O facto de estar de costas para os meus colegas, logo numa primeira fase da ação, em que começo a desenhar linhas, manchas no papel que se encontra à minha frente, tentei transmitir uma quebra do que é suposto acontecer. Num contexto perfomatico, o desvio na ação supostamente apreendida torna-se desconfortável e levanta questões pertinentes nos observadores. Algo interessante que aconteceu fora a participação dos meu colegas, sem qualquer comunicação prévia, todos juntaram-se de uma forma muito intuitiva e sistemática, culminando numa ação semelhante a um ritual. Neste momento, coloquei-me no chão, quase como se representasse um ritual de luto, acabando por me pintar com carvão pelo corpo, rosto e papel que se encontrava pousado sobre mim.
Paralelamente a esses atos, os meus colegas rodeavam-me, segurando uma folha de papel de aproximadamente dois metros por dois metros. O ato geral foi finalizado com essa mesma folha a aproximar-se de mim, moldando-me ou revestindo-me completamente.
Este exercício explorou a simbiose entre o desenho e a performance, destacando a importância da presença do corpo e dos movimentos na criação artística. O ato de cortar o papel e permitir que partes do corpo "entrassem" no desenho, bem como a pintura do corpo com carvão, ressaltou numa fusão complexa.
Um dos trabalhos de Monika Weiss que se relaciona com o exercício que descreveste é a série "Lamentations", que ela começou em 2000 e continuou a desenvolver ao longo dos anos. Nesta série, Weiss deita-se nua sobre grandes folhas de papel ou tecido, muitas vezes em espaços públicos ou galerias. Com carvão desenha em torno do seu corpo, criando um contorno da sua forma. Estes desenhos são feitos em um estado de introspecção e concentração, com movimentos lentos e deliberados.
Após concluir o desenho, Weiss geralmente permanece deitada por um período de tempo, como se estivesse fundida com a obra. Este ato de deitar e levantar é reminiscente de rituais de luto ou lamentação. Tal como no exercício feito em aula, "Lamentations" envolve a criação de um desenho diretamente relacionado com o corpo da artista, usando carvão sobre papel ou tecido, explorando a relação íntima entre o corpo, o desenho e a performance.