MEMÓRIA DESCRITIVA___
Este exercício pretende refletir sobre as estratégias do desenho como documentação em contexto performativo, analisando um dado espaço como o "grau zero" de uma ação desviante, conceito proposto por Roland Barthes, que se refere ao momento em que um comportamento transgressivo perde o seu caráter subversivo e se torna aceite pela sociedade. Esse processo de normalização pode ocorrer devido a mudanças nos valores sociais, à incorporação pela cultura popular ou à adaptação das instituições. Exemplos incluem a evolução do vestuário e a assimilação de movimentos artísticos inicialmente desafiadores. O "grau zero" representa o ponto em que uma ação desviante perde a capacidade de chocar ou desafiar as normas, integrando-se à cultura e à sociedade em que se insere.
(espaço escolhido: ELEVADOR pav. Carlos Ramos)
Esta experiência de preencher o elevador do Pavilhão Carlos Ramos com folhas no chão, criou um ambiente sensorial, desafiando as noções convencionais de um espaço de passagem. O chão, normalmente limpo e uniforme, foi coberto por uma camada de folhas secas.
A cada passo dado dentro do elevador, as folhas estalavam sob os pés, produzindo som que ecoava pelas paredes metálicas. O simples ato de caminhar tornou-se numa experiência multissensorial, envolvendo a audição, o tato e o olfato.
Embora os elevadores sejam geralmente vistos como espaços austeros e impessoais, essa intervenção trouxe um toque de natureza para o interior, criando uma conexão inesperada com o jardim em frente ao pavilhão. As folhas espalhavam-se pelo chão, convidando a pisar nelas, deixando pegadas únicas em seu caminho.
Esse ambiente sensorial despertou curiosidade e surpresa em todos aqueles que passaram pelo elevador. Alguns hesitavam inicialmente, confusos com a presença das folhas, enquanto outros se deleitavam com a oportunidade de pisar nelas, liberando os sons e aromas naturais.
Contaminação do espaço: "profanar" um espaço não só com a nossa presença, mas pelo que fora deixado para trás.
A dinâmica criada por essa intervenção artística convidou as pessoas a repensarem sua relação com os espaços cotidianos, encorajando-as a explorar novas perspectivas e experiências sensoriais. O elevador, antes um local de passagem rápida, se tornou um destino em si mesmo, desafiando as percepções e estimulando a imaginação.