O porto seguro e o farol são o contrário do naufragado em alto mar. São sua contra-imagem. No alto mar nossa identidade praticamente desaparece, você apenas é circunscrito por um infinito de incertezas. O lugar inóspito te desidentifica, é o avesso do planejamento, da direção e do destino, é a crítica à vida cotidiana de Henri Lefebvre. O náufrago é o repúdio situacionista às premissas racionalistas modernas, é a atuação completa, a total experimentação. É o funcionalismo cartesiano versus o instinto criativo, a espontaneidade do atravessamento contra a rigidez das fronteiras, é experiência pura, vivência plena, o náufrago é a linha limite entre a urbanidade e a natureza. Pode-se morrer de sede tanto no mar quanto no deserto.
Já na cidade, o tempo fatiado, processado, comercializado em linhas de produção, tempo é dinheiro. Mas a verdade é que a vida é feita por uma temporalidade não linear, uma história rizomática, sem centro, formada por sucessões de instantes que se sobrepõe em uma formação fractal e anti hierárquica de realidade. Onde o pequeno gera o todo.