“Misfortune is the echo of hope”

 

O desastre é um fantasma da esperança, os fantasmas, como os das palavras de ordem na fachada da Faculdade de Belas Artes, são lembranças de uma esperança de futuro, paradoxalmente quase escondidos, quase aniquilados pelos avanços do presente e do progresso do “futuro”. São estes vestígios materiais (ou quase imateriais) que nos recordam de algo ainda existente mas esquecido, como uma ambição carinhosa por um melhor presente partilhado.

Ao olhar, prevemos o desastre  e a esperança, mas, apenas se olharmos de frente para as coisas que nos rodeiam diretamente. Ao explorar os contextos geográficos urbanos em que vivemos, procuro reproduzir um olhar atento mas compreensivo, crítico mas que está imerso no mundo que olha e que representa, é hipócrita, é combativo, é carinhoso.

Este olhar, apresenta-se ao desastre da realidade que nos rodeia de vários modos. Procura documentar deixando-se rolar como uma câmara de vigilância, procura contextualizar provocando narrativas sobre a imagem documental e procura disrupção na aparente monotonia, e no seu próprio contexto. Colocando-se entre fachadas, da investigação, do tempo, da história do dia a dia...

Em "Diante do Tempo" Didi-Huberman propõe um anacronismo no pensamento histórico da arte. Como  através do olhar quotidiano como todo o olhar acaba por ser, o pensamento não nos constrange de forma temporal cronológica. Também as obras de arte públicas, com que somos confrontados provocam este constante anacronismo. A partir disto proponho que o próprio olhar narrativo artístico na cidade é um ato de constante anacronismo, contrapondo os momentos mais dispares dos lugares mas que co-habitam junto, fazendo evidente escavando a arquitetura como nas empenas entre prédios.

O café Rialto desapareceu. Neste momento não conseguimos nenhum vislumbre da sua essência. No seu lugar um espaço desconectado de consumismo.