Performing the Shelter - fase 2

MANTO DE CASCAS DE ÁRVORES

 

 

nome obra: Manto de cascas da árvore

material: cerâmica (faiança), tecido de sizal e corda de sisal

ano: 2024

Sinopse:

Partindo da ideia de Shelter como um espaço de proteção, procurando pelo conforto do corpo perante o que lhe é externo, o Manto de cascas da árvore nasce como uma possivel resposta. Em diversas mitologias, a ideia de árvores como elemento natural de proteção e abrigo para inúmeras ações, fora ao longo dos séculos utilizada. Exemplo disso é na mitologia dos povos a norte da europa, como os germânicos e os vikings, a runa berkana associada à árvore betula, representava fertilidade, nascimento, renovação, proteção e maternidade. Em outras civilizações antigas, como por exemplo, na mitologia cananeia e posteriormente hebraica, na antiga cidade de Ur, a norte de Israel, na atual Suméria, existiam diversas mitologias, narrativas de deuses e deusas. Uma delas Ashera, mulher do deus El, e posteriormente do deus Yave, era representada por uma arvore, e sempre que acontecia algo debaixo de uma árvore, significava que a própria deusa abençoava aquele momento. São inumeros os exemplos que são descritos em estelas ou tabuletas cuneiformes, de momentos de bênçãos ou de festividades, de fertilidade, e inclusive na própria bíblia consta descrições de bênçãos de ações que foram feitos "debaixo da arvore". 

Desta forma, pegando na ideia de árvore como proteção, da sua própria casca como pele, como revestimento, fora decidido criar algo em torno de um fragmento de casca encontrada. pedaço de madeira que tinha imensa textura, capaz de criar replicas de moldes de negativos em barro bastante interessantes em termos plásticos. Algo que me fascina, é a capacidade de multiplicação, de moldes que reproduzam manualmente ou não, inumeros fragmentos, tornando possível desconstruír o modelo, construindo algo diferente e podendo voltar outra vez à sua descontrução, privilegiando uma parte novamente e trabalhando a questão da escala [processo que será explorado em outro trabalho].

Surge o manto de peças de ceramica, realizado atraves de uma moldagem direta da própria fração da árvore, e multiplicando-se. A proteção corpo, e o abrigo da natureza em si, como se se desse um abraço, uma benção que torna possível o conforto de quem permanece no seu interior. O facto do material ser frio, duro e áspero no exterior torna sensações de repelir o que é negativo, invasor. No entanto, no seu interior, cada peça é revestida com sisal, o que resulta numa sensação de prazer e bem estar para o corpo.

 

 

 

PROCESSO CRIATIVO

PONTO DE PARTIDA - ÁRVORE BÉTULA - RUNA BERKANA 

fragmento de cerâmica cru com pigmento e sem pigmento

A runa Berkana é uma runa que simboliza fertilidade e tudo relacionado a nascimento, crescimento e renovação. Está ligada à fertilidade, ao poder gerador de vida e também à proteção e à nutrição relacionada com a maternidade.




primeira fase: a partir de um objeto, de um fragmento de madeira com bastante textura, já desvinculado da simbologia da runa e da especificidade da árvore, trabalhou-se a multiplicidade de uma parte do todo. Ou seja, apenas com uma parte de uma árvore procurou-se por reproduzir uma grande quantidade de peças que pudessem cobrir um manto [questão de escala/limite]. 

  

 

 

 

segunda fase: cozedura de todas as peças realizadas em barro cerâmico.

forno com peças de ceramica

 

 

terceira fase:  experimentação de variadas formas de explorar e manipular as peças de cerâmica, procurando a melhor forma de trabalhar o conceito do "manto", manto possivel de vestir [de envolver um corpo]. Experiências da ausência da cor [ceramica em cru Sem pigmento] e/ou com cor [pigmento de viochene com goma laca].

mesa de trabalho, mostra de maquetes realizadas para o projeto

 

 

 

 

 

objeto final: Manto de fragmentos de cerâmica de casca de árvores.





Para a construção do manto, foram realizados várias formas de manipular os fragmentos e uni-los através de fios, pedaços de tecido colados, procurando tornar as cerâmicas unidas num "manto" só.

 

Procurou-se por transmitir uma sensação tribal, primitiva e natural, e para tal, a manipulação da cor com pigmentos [viochene] e goma laca possam ter proporcionado.

 

A escolha de materiais que seriam vistos através do manto exposto, tais como a corda e os retalhos de sisal, foram escolhas importantes para a relaização da obra, transmitindo ainda mais a sensação de algo orgânico e vindo da prórpria natureza, da propria árvore. 

 

manteve-se sempre a ideia do objeto inicial, a casca da arvore, no entanto, passou por diversos processos de manipulação de inúmeros materiais. Já não é casca de árvore, mas ao mesmo tempo ainda é, aparenta o mesmo efeito, como se espelha-se a própria materia e se multiplicando.

 

Performance "Visto-me da árvore"

com o Manto de cascas da árvores [escultura]

Para a realização da performance, fora escolhido um espaço exterior com árvores e outros elementos naturais. Para tal, escolheu-se o jardim da Faculdade de Belas Artes.  Procurando por transmitir estas questões acima apresentadas, tais como relação do corpo humano debaixo da árvore, refletindo as mitologias circundantes das bênçãos das árvores, dos deuses e deusas, da própria natureza, e a simbologia relativa à casca da arvore como pele que protege um corpo.

 

primeiro ato: pegar no manto que já se encontrava na árvore, dobrado, de forma escondida, dando a entender que o que fora encontrado faz parte da árvore e eu me aproprio para mim, pelo menos durante um momento. Como se pedisse emprestado à natureza a sua própria pele.

 

segundo ato: torná-lo meu. Envolvo o meu corpo com o manto no ombros, protegendo a maior parte do corpo, pelo menos a parte mais frágil.

 

terceirio ato: realização de uma ação ou simplesmente permanecer no espaço durante alguns segundos.

 

quarto ato: levantar, tirar o manto, dobrar e devolver. O ultimo ato deverá ser o mais priveligiado na observação, pois o simples momento de devolver o manto à arvore, prevalece o respeito pela própria procurando por devolver tudo o que o ser humano tira para construir, usufruir. Devolvendo o que tiramos, torna possível que o planeta se auto-regenere, perpetuando a vida.

 

 

 

 

 

Fotos com detalhes da instalação do peça escultórica na árvore onde decorreu a ação

 

 

 

 

 

Video 1 (primeiro e segundo ato)

 

 

 

 

 

Video 2 (terceiro e quarto ato)

CAMUFLAGEM

ponto de vista (gravação da ação de cima para baixo)

 

A ação fora gravada de um ponto de vista de cima para baixo, procurando explorar uma maior camuflagem da pessoa durante a ação. 

O elemento da cor presente nos frames dos dois vídeos é CASTANHO - VERDE - CASTANHO - VERDE - CASTANHO (os vídeos complementam-se, e um é uma resposta ao outro. 

 

A mudança de plano de imagem entre os dois videos resulta numa rotação em simetria simples. Por um lado, a pessoa que faz a ação entra no frame pelo lado inferior direito, e no video em resposta sai do plano de imagem pelo lado superior esquerdo. Uma dualidade de ações mas que reforma o objetivo original de devolução à natureza aquilo que lhe pertence.