Na zona que circunda o cavalete existe alguma diversidade de flora: o medronheiro, o salgueiro, o carvalho, o sobreiro, o salgueiro o azevinho, o cedro, a giesta, o trevo branco, a olaia, o lingustro, a brunéla, a mimosa, o plátano e o plátano bastardo, a erva tintureira, e outras a estudar na primavera.

Quanto à fauna, a comunidade informou-nos da existência de texugo, cágado, milhares de rãs que vivem na saída da “mina 0” (mina de água), cobra rateira, salamandra, furão, cobra de água, víbora, raposa, licranço, codorniz, perdiz, ferreirinho, pica-pau, melro, gaio, águia, cão vadio, mocho, bufo real, e ouriço caxeiro.

No Outono recolhemos alguns cogumelos e fiz o registo através de esporadas.

Quanto aos fósseis, já é uma prática recorrente fazer sáidas de busca. Um jardineiro local tem como missão dar a conhecer estes achados.

 

Recolha de matérias

LABORATÓRIO F.

A revolta das espécies autóctones

A minha abordagem enquanto artista plástica, neste projeto, reflete sobre questões ecológicas e politico-sociais. Está em curso desde 2021 em parceria com a comunidade local através de associações, a câmara municipal de Castelo de Paiva, o ICNF (instituto de conservação da natureza e floresta) e o CENASEF (centro nacional de sementes florestais de Portugal). 

Inserida numa investigação mais abrangente com o título SHS (soil, health and surrounding) formada por um grupo multidisciplinar da UP (Universidade do Porto), investigamos a partir do solo de três antigas zonas mineiras e da sua envolvente histórica, social e ecológica. 

Como artista e investigadora centrada nas margens da arte e do extrativismo e após alguns anos a trabalhar dentro destas problemáticas, revejo-me como resistente, e manifesto essa resistência através da remediação, da conservação e da proteção. 

Desenvolvi o mote A REVOLTA DAS ESPÉCIES AUTÓCTONES para dar início ao trabalho. Trata-se de uma acção que precisa dos humanos, da fauna, da flora e da funga, como parceiros para a criação de um laboratório ficcional.

Porquê Laboratório? Os laboratórios criam esperança pois oferecem espaços para colaborar, experimentar e criar de uma forma coletiva, projetos que melhoram a vida em comum. Este lugar pretende ser um lugar de encontro e diálogos entre espécies. 

Onde? Na antiga zona mineira do Fojo situada no vale em Folgoso, freguesia de Raiva, concelho Castelo de Paiva. Neste lugar, antes da mineração, a atividade comum era a  agricultura e a pastorícia, mas a uma cota muito inferior. O solo que encontramos, no presente, é uma acumulação em camadas dos excedentes/escória da extração de carvão e vestígios de matéria do grande incêndio de 2017. A extração de carvão e o incêndio transformaram a topografia deste lugar. Podemos encontrar carvão vegetal e mineral.

Incêndio narciso, 2018, vídeo 


Espécies

O que são espécies autóctones ou nativas? 

São espécies da flora, fauna e funga originários do próprio território, de Portugal. Com os descobrimentos e a construção das naus, abateram-se muitas árvores: para a construção de uma nau eram necessárias 2000 a 4000 árvores (carvalhos). Para o Brazil construiram-se 500, para a India 800 e para Ceuta 300. Esta desflorestação do país afetou profundamente a biodiversidade das plantas, animais e fungos.

O pinheiro bravo foi semeado com grande profusão particularmente durante a política de arborização do Estado Novo.

A partir de meados do século XX, os pinhais têm vindo a ser substituídos por eucaliptais que servem os interesses das celuloses na produção de pasta de papel. Nas últimas décadas a explosão das plantações de eucaliptos fizeram de Portugal a maior área de eucaliptal contínuo da Europa.

 

Contexto

Formado por várias explorações de carvão (Pejão, Fojo e Germunde), este couto mineiro iniciou a sua atividade em 1859. As extracções integravam-se na bacia carbonífera do Douro, com rochas da idade Paleozoica do perído do Carbónico. A atividade cessou em 1994 pois o carvão extraído era de fraca qualidade e já havia diretivas de Bruxelas para se irem fechando as minas com carvão menos qualitativo. Das estruturas que apoiavam os trabalhos da mineração na mina do Fojo, restam o Cavalete (ou torre de extração, construída em 1952 em betão armado, para elevar do subsolo as “jaulas” de carvão e de humanos/mineiros) e um túnel subterrâneo com quase 500 m. Relativamente à paisagem podemos verificar que a vegetação em redor é monocultural, é um eucaliptal

Num inventário directo realizado nos anos 80 do século XIX por Pimentel (1884) refere-se a presença de eucalipto nas “mais extensas plantações do país”, mostrando bem a predominância do interesse dos particulares. Da lista de propriedades arroladas, em número de 12, envolvendo no total umas 300 000 árvores, apenas figuram o Pinhal de Leiria, onde existiriam umas 40 000, e a Mata do Valverde (Alcácer), onde se encontravam não mais de 1000 árvores.

Para além das utilizações agrícolas e domésticos da madeira, o primeiro destino claramente de produção comercial do eucalipto, foi para travessas de caminho de ferro. As primeiras plantações com essa finalidade foram efectuadas em 1870 (Pimentel, 1884) pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, a partir de viveiros e da instalação definitiva nas áreas reservadas das estações, casas de guarda e ao longo das linhas. Entretanto, reconhece-se um longo período em que o recurso ao eucalipto não tem aumentos importantes, e verdadeiramente só a partir da década de 1940, se torna numa óbvia e importante fonte de matéria-prima para a produção de pasta para papel (Radich, 1994).

https://www.researchgate.net/publication/236841132_A_introducao_e_a_expansao_do_eucalipto_em_Portugal

 

 

Zona de intervenção e conservação; linhas azuis - água subterrânea; círculo verde - zona de plantio; círculo azul - charco.

Esta obra foi desenvolvida no âmbito do projeto “Soil health surrounding former mining areas: characterization, risk analysis, and intervention” (NORTE-01-0145-FEDER-000056), cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional Regional do Norte - Norte 2020

Começamos por pedir permissão ao solo. Com o apoio da câmara municipal, de voluntários das associações locais e dos guardiões realizamos o primeiro estudo sobre o lugar a implementar o laboratório ficcional: analisamos a exposição solar e o acesso à água para irrigação. Depois de escolhido o lugar, passamos à sua demarcação e à observação das espécies. É importante mencionar que o Cavalete do Fojo é uma estrutura industrial em ruína que virá a ser, no futuro, o museu das minas do Fojo.

Rapidamente percebemos que a Acacia dealbata, n.c. mimosa, reinava. Esta espécie invasora deverá ser retirada do solo com raiz ou, quando o tempo assim o permite, secá-la usando a técnica da descascagem. Como não temos disponíveis 6 meses de espera, optamos por retirá-las com raíz. O guardião Hugo Rodrigues (HR) fez, por iniciativa própria, o descasque de uma mimosa nas imediações para contabilizarmos o tempo de espera desta técnica. Poderá ser usada se houver intenções futuras para a eliminar noutras áreas.

Arrancamos as mimosas e deixamos dois cedros, um salgueiro, um medronheiro e dois sobreiros que emergiram ao nosso olhar durante a limpeza. 

 

Solo, sol e água 

Com a colaboração da junta de freguesia foi aberto um círculo com 8 m de diâmetro e 60 cm de profundidade máxima, no centro da área de intervenção, para a criação de um charco. Esta zona de água pretende, no futuro, ser o habitat de diferentes espécies de invertebrados, insectos, plantas aquáticas e tantos outros seres invisíveis a olho nu. 

Abriu-se uma ranhura no solo para inserir a tubagem que conduz a água de mina até ao charco. Já temos água para encher o charco e para futuras regas!

Depois de uma primeira tentativa falhada - a tela foi prefurada com as arestas de pedras de xisto e deixou vazar a água - colocou-se no fundo da superfície, uma camada de saibro para alisar o solo e evitar novos cortes na tela. Adicionamos uma primeira camada de lona geotextil, de seguida a lona plástica e por último tela geotêxtil novamente. Abriu-se a torneira da água e rápidamente formou-se um espelho. Este espelho surpreendeu-nos! A torre do cavalete espelhou-se de forma invertida. Esta imagem brindou-nos com a possibilidade de novas percepções do lugar. Podemos dizer que a torre refletida e invertida nos aponta para um novo espaço. Para além de um espaço concreto, o da água e vida que ali irá habitar, encaminha-nos também para um espaço fantasmagórico que carrega não só a história das minas mas também do subterrâneo que não é visivel.


Charco

Para esta fase de plantio, consultei o CENASEF e a Sweet Green, produtora local de espécies autóctones. Em conjunto decidimos quais as espécies mais adequadas às condições locais, e mais tarde, definimos o seu posicionamento no plano.

O quadro que se encontra na imagem serviu de orientação para que os restauradores ecológicos voluntários, divididos em cinco grupos, tentasssem aproximar o lugar de plantio com a espécie adequada - zonas húmidas ou secas, de sombra ou sol, de vento ou calmaria. Levamos uma ficha com as caracteristicas de cada espécie para estimular o conhecimento sobre os beneficios para o solo e para os seres vivos que ali habitam ou irão habitar.Convidamos a Sweet Green para transmitir esse conhecimento durante o tempo da plantação. Gerou-se uma relação mais intimista entre solo, humanos e flora.

No final foram servidas três infusões de ervas aromáticas.  

De acordo com o plano idealizado iríamos plantar, numa primeira fase, 45 árvores muito jovens para que as suas raízes cresçam saudáveis. Estas espécies autóctones foram cedidas pelo ICNF e as excedentes fazem parte do viveiro do Laboratório Ficcional. Para encontrarmos os voluntários mais adequados foi lançado o convite às associações, aos membros envolvidos no projeto e aos investigadores do SHS. Criou-se um certificado de custódia - à semelhança de Agnes Denes - com o nome da/o voluntária/o e o número da árvore a plantar para que ela/e crie uma ligação com a árvore. Através deste certificado pedimos-lhe que preserve a árvore durante os próximos 100 anos. Estas pessoas serão reconhecidos como conservadores do Laboratório F. e membros de um grupo aberto.

Previamente foram desenvolvidas etiquetas para serem colocadas nas árvores utilizando um processo de reciclagem de latas de refrigerante: com a inscrição do nome do conservador/a e o número correspondente. Também numa acção de aproveitamento de excedentes, as mimosas arrancadas da área de intervenção foram trituradas com uma máquina adequada para servir como cobertura de solo.

 

Segunda acção de plantio: ARBUSTOS, SEMI-ARBUSTOS e HERBÁCEAS

Primeira acção de plantio: ÁRVORES